João Paulo II

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O falecimento

Karol Josef Wojtyla, o papa João Paulo II, morreu às 21h37, horário de Roma, do dia 02 de abril de 2005, aos 84 anos, em seu apartamento no Palácio Apostólico.

O papa sofria de artrite e mal de Parkinson e passou por duas delicadas cirurgias nos dois últimos meses de vida.

Horas antes do anúncio de sua morte o papa, pela segunda vez em quatro dias, tentou falar em público, sem conseguir.

A doença

Em 2003, a artrite o impossibilitou quase totalmente de se levantar ou de caminhar sem sentir dor, a ponto de técnicos do Vaticano desenharem um trono com rodas que poderia ser elevado para permitir-lhe celebrar missas sentado.

Essa foi uma mudança de grandes proporções para o ex-esquiador que costumava deixar muitos de seus assessores mais jovens esbaforidos.

O pontificado

O pontificado de João Paulo II durou 27 anos: o terceiro mais longo da história papal. Neste período, proclamou 482 santos, mais do que todos os predecessores nos últimos 500 anos.

João Paulo II marcou como poucos o século XX: atuou decisivamente na derrocada do comunismo no Leste Europeu em 1989 e foi o papa mais midiático da história, proporcionando ao mundo que lhe acompanhasse o envelhecimento.

A presença de câmeras de TV em todos os eventos que o líder religioso participava dava, frequentemente, um destaque ampliado aos seus problemas de saúde.

Origem operária

Karol Jozef Wojtyla nasceu em 18 de maio de 1920 em Wadowice, na Polônia. Em setembro de 1939, os nazistas ocuparam a Polônia e ele suspendeu os estudos.

Durante a Segunda Guerra foi fichado pela Gestapo e participou da resistência contra a Alemanha.

Trabalhou como operário em pedreiras e, mais tarde, nas indústrias químicas Solvay. Neste período, uniu-se a um grupo de teatro e interpretou papéis em peças de conteúdo patriótico.

Foi ordenado sacerdote em novembro de 1946, aos 26 anos. Em 1963, foi nomeado arcebispo da Cracóvia e, em 1967, cardeal, aos 47 anos: o segundo mais jovem da Igreja Católica.

Em 16 de outubro de 1978, converteu-se, aos 58 anos, no papa mais jovem do século XX. Foi o primeiro pontífice não-italiano desde a eleição do holandês Adriano 6º, em 1522.

Fatos marcantes

Seu pontificado ficou marcado pelo atentado que sofreu na Praça de São Pedro em 13 de maio de 1981, quando o turco Ali Agca atingiou-lhe com dois tiros.

Outro episódio importante foi a intervenção cirúrgica realizada no Policlínico Gemelli (Roma) em 12 de julho de 1992 para retirar um tumor benigno do cólon.

O estado de saúde de João Paulo II voltou a causar preocupações em setembro de 2003, durante uma viagem a Eslováquia na qual mostrou grande fraqueza, dificuldade de respirar e falar e a impossibilidade de andar.

Desde então, suas intervenções públicas ficaram quase reduzidas a breves apresentações, nas quais se destacam seus gestos de dor.

Um papa político e protagonista da história

João Paulo II foi protagonista-chave do cenário mundial por mais de um quarto de século e marcou com seu carisma e sua forte personalidade os rumos da Igreja católica, que passou por vários momentos críticos durante seu pontificado.

Vindo do Leste, era crítico contundente dos totalitarismos, e é considerado por historiadores e cientistas políticos como um dos principais fatores que desencadearam a queda do comunismo no final dos anos 80.

João Paulo II, que não se conformava com a divisão do mundo em dois blocos e declarava-se convicto de que "a mentira comunista" podia ser derrotada.

Para conseguir esse objetivo, apoiou, durante os anos 80, a política dos EUA, liderada então por Ronald Reagan, um anticomunista convicto.

Após a queda do muro de Berlim, denunciou os excessos do capitalismo e suas injustiças sociais.

Condenação das guerras

Depois que os EUA decidiram atacar o Iraque em 2003, o papa pediu que não se desencadeasse uma guerra imprevisível, cujas conseqüências eram desconhecidas e que podia desembocar numa guerra de religiões.

Em inúmeras ocasiões públicas, sobretudo durante o Angelus do domingo, o papa pediu pela paz no Iraque, pela paz no Oriente Médio, e pelo "fim das guerras esquecidas e dos conflitos atrozes que provocam morte e dor".

"A guerra é uma aventura sem retorno", advertiu em 1991 quando se opôs à guerra no Golfo.

A condenação à guerra foi explícita ao longo de seu pontificado. Chegou a figurar para o Prêmio Nobel da Paz.

Atitudes marcantes

Foi o primeiro pontífice da história que entrou em uma sinagoga, em Roma, e a estabelecer relações diplomáticas com o Estado de Israel.

Foi o primeiro chefe da Igreja católica que entrou em uma mesquita e que pediu perdão em nome da Igreja por todos os erros cometidos pelos católicos durante as cruzadas, as guerras de religião, o tráfico de negros e contra os judeus.

Foi o primeiro pontífice que visitou Cuba, o último reduto do comunismo no Ocidente, em janeiro de 1998, e a aparecer em público com Fidel Castro.

Esteve no balcão do La Moneda (palácio presidencial chileno) com o ditador Augusto Pinochet, suscitando a desaprovação de muitos católicos, que interpretaram o gesto como uma benção ao regime militar.

Insucessos

Mais complexas foram as relações inter-religiosas. Apesar de seus esforços a favor da unidade, não conseguiu aproximar os ortodoxos nem cumprir sua desejada viagem a Moscou, para visitar o patriarca Alexis II.

O Papa, que mobilizou as multidões, sobretudo os jovens, durante suas inúmeras viagens pelo mundo e em particular na América Latina, não pôde deter, entretanto, a redução das vocações religiosas e o avanço das seitas protestantes.

Para muitos, a firme condenação dos métodos anticoncepcionais, sobretudo do uso do preservativo para evitar a Aids, e seus rigorosos princípios em matéria de moral sexual e de família, acabaram por desencantar muitos católicos, que se sentem incompreendidos diante da evolução dos costumes no mundo moderno, como o divórcio.